O jovem J é um adolescente que tem tido problemas que sugerem uma intolerância excessiva à frustração. A hipótese inicial é de que ele tem investido suas energias em metas irrealizáveis que não dependem dele mesmo, mas de outras pessoas.
Ele relata ter sentido uma grande irritabilidade quando teve a expectativa de que sua mãe correspondesse a uma expectativa sua: - "Ela bem que podia se relacionar com aquela pessoa que escolhi para ela. Ela será feliz e eu também."
Diante das negativas materna o jovem J chegou a ter comportamentos suicidas e de auto-mutilação, como estratégia dramática e limítrofe para impressionar, pressionar e controlar a mãe.
Durante os trabalhos psicoterapêuticos suas estratégias de controle diminuiram de frequência embora ainda tenha uma expectativa menos intensa de ser correspondido.
Na medida em que relatou a irritabilidade da mãe diante de seu oposicionismo em atendê-la, tivemos a oportunidade de analisar a questão pela sua ótica (estilo cognitivo). O jovem J, dizia não importar-se com as expectativas de sua mãe, que considerava-as uma falta de respeito, egoísmo e falta de amor para com ele (Ela não me estima).
Questionado se contava com sua mãe para corresponder suas expectativas, ele confirmou e acrescentou que sua felicidade dependia de sua mãe. Que apesar de seus constantes pedidos ela não o correspondia.
Questionado se considerava o seu pedido razoável confirmou que sim, afinal ela era sua mãe e seria normal que ela o atendesse.
Questionado se tinha expectativas semelhantes em relação a outras pessoas ele confirmou que sim. Sempre tinha certeza do que esperava dos outros.
Questionado se as pessoas constantemente tinham expectativas sobre ele, hesitou e respondeu que não; esclareceu que "elas não sou bobas de achar que vou ficar fazendo o que elas querem, elas sabem que não dou a mínima para o que não estou interessado e que sou grosso com elas se insitirem."
Questionado se o modo como pensava a respeito de ter suas expectativas correspondidas pelas pessoas era semelhante ao modo como lidava diante das expectativas delas em relação ele, respondeu que não. Eram modos diferentes: "eu posso esperar delas, elas não podem esperar de mim" (erro cognitivo de frases imperativas, eu devo, eles devem).
Questionado se sempre percebera esta diferença, hesitou e sorriu: - "Não, eu não percebia. Percebi agora, conversando aqui."
Questionado se ter altas (e intransigentes) expectativas que não dependiam de si o estava ajudando respondeu que não (metas fracassadas).
Questionado se sentia-se motivado a investir nas expectativas que dependeria de si, respondeu que sim, um pouco, porque não sabia como fazer isto(início de flexibilização).
Questionado se esta poderia ser uma meta para o trabalho em terapia, respondeu que sim (feedback).
Questionado se sentia-se motivado para isto, respondeu que mais ou menos, mas que tentaria (instilando esperança).
O jovem J tem atitudes com (1) características de dependência (preciso fazer vínculos); (2) características narcisistas (elas devem me servir, sou especial) e (3) características de controle (elas devem permanecerem a minha disposição).
Nosso planejamento de intervenção contemplou, no início, o trabalho com suas características de controle por considerá-las de alto risco (intervenção de crise).
Atualmente, estamos lidando com as características narcisistas e de dependência, investindo em metas que colaborem para seu auto conceito de capacidade e estima.
Meta terapêutica: "Sou uma pessoa que faz as coisas de modo especial para mim e para as outras pessoas."
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