Porque não consigo tomar atitudes com uma pessoa querida que me irrita, que abusa de mim? São anos colecionando dissabores, expectativas frustradas que prejudica o meu presente e o meu futuro imediato; mas lá está ela abusando dia após dia, cutucando-me, como a àguia que de dia cutucava e comia o fígado imortal de Prometeu. Automáticamente sei o que fazer e automáticamente deixo de fazer.
Prometeu foi castigado porque roubou o conhecimento, na forma de fogo, que pertencia a Zeus e o entregou aos homens. As pessoas que abusam são como Zeus, criam regras para o seu bem estar e acreditam que estas devem ser seguidas pelas pessoas à sua volta, não hesitando em culpá-las e até puní-las. Elas, assim como Zeus, interpretam que se transgrediram suas inprescindíveis regras é porque intencionam torná-las vulneráveis. Felizmente, a rigidez de Zeus, o deus dos deuses, é passageira e ele ordena (sempre acha que pode determinar) a Herácles que mate a àguia.
As vezes nos falta a coragem de Prometeu e não assumimos os nossos conhecimentos sobre o quanto uma relação é improdutiva para a nossa meta de ser feliz. Isto porque somos atropelados pela nossa meta de sobrevivência. Acreditamos que se agirmos de modo diferente seremos desamparados, ignorados ou não estimados.
Por isto afirmei que automáticamente sei o que fazer(para ser feliz), mas automáticamente deixo de fazer (para não aumentar minha vulnerabilidade).
É preciso haver um entendimento entre Zeus e Prometeu a favor do Homem; uma harmonia entre o que pensamos sobre o que precisamos, o que queremos e o que podemos. Nosso ego (ligado ao mundo) precisa colaborar com o nosso Self (ligado a nossa natureza).
Arnaldo Vicente.