Dicas para identificar, esclarecer e incentivar o diagnóstico precoce da compulsão alimentar (TCAP).
1 – Comer pode tornar-se uma atividade de risco?
Comer uma barra de chocolate de vez em quando não é nenhum pecado. Ao contrário, pode até ajudar a relaxar depois de um dia estressante.
Mas quando o desejo de devorar a caixa toda se torna freqüente é melhor ficar alerta. Pode ser um indício de compulsão alimentar.
2 – Como podemos caracterizar, definir a Compulsão alimentar?
No TCAP ou Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica(TCAP), como é chamado, o indivíduo ingere, sem controle, grandes quantidades de alimento, sentindo posteriormente, grande culpa por esse ataque.
A compulsão pode ser definida como o desejo exagerado de comer algo. 'Quem sofre desse transtorno não pára de comer até que o alimento acabe.
3 – O TCAP só acomete os obesos?
Embora o TCAP foi descrito a partir de observações de pacientes obesos. E apesar de bastante freqüente nesse grupo, também acomete indivíduos de peso normal.
Temos que lembrar que os obesos já tiveram peso normal.
Cerca de metade dos pacientes desenvolve a compulsão alimentar mesmo antes de se envolver em dietas, o que favorece, por sua vez, o ganho de peso.
4 - Qual a prevalência do TCAP?
Estudos epidemiológicos descrevem uma prevalência de TCAP em 2% da população geral.
O TCAP É encontrado em cerca de 30% de obesos que procuram serviços especializados para tratamento de obesidade.
O TCAP acomete indivíduos de todas as raças, com distribuição aproximada entre os sexos (três mulheres para cada dois homens), geralmente tendo início no final da adolescência.
Mulheres com esse diagnóstico apresentam índice de massa corporal (IMC= peso/altura ao quadrado) mais alto do que mulheres sem TCAP, assim como oscilações de peso mais freqüentes e maior dificuldade em aderir ou manter o peso ao tratarem a obesidade.
Costumam se auto-avaliar, principalmente em função de seu peso e forma do corpo, diferentemente dos obesos sem TCAP.
Estudos apontam não só escores mais elevados de sintomatologia depressiva como, em média, depressão clínica completa em 50% dos casos.
5 - Como se inicia esse processo?
Alguns autores observaram certas características próprias de obesos com esse diagnóstico associado:
1 - Obesidade nas fases iniciais da infância;
2 - Precoce envolvimento em programas de dietas;
3 - Maior frequência de restrição alimentar e do distúrbio da imagem corporal;
4 - Sintomatologia depressiva mais evidente;
5 - Maior preocupação com comida, levando a grandes oscilações do peso corporal no decorrer da vida e a uma maior prevalência de transtornos psiquiátricos;
6 – Como os profissionais reconhecem o TCAP?
Muitos autores apontam "traços" de personalidade comuns em pacientes com TCAP:
- baixa auto-estima;
- perfeccionismo;
- impulsividade; e
- pensamentos dicotômicos (do tipo "tudo ou nada", ou seja, total controle ou total descontrole).
O critério de diagnóstico para TCAP proposto pelo DSM-IV requer a presença de:
a. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado por ambos os seguintes critérios:
1. ingestão, em um período limitado de tempo (por exemplo, dentro de um período de duas horas), de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período similar, sob circunstâncias similares;
2. um sentimento de falta de controle sobre o episódio (por exemplo, um sentimento de não conseguir parar ou controlar o que ou quanto se come).
b. Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) dos seguintes critérios:
1. comer muito e mais rapidamente do que o normal; 2. comer até sentir-se incomodamente repleto; 3. comer grandes quantidades de alimentos, quando não está fisicamente faminto; 4. comer sozinho por embaraço devido à quantidade de alimentos que consome; 5. sentir repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer excessivamente.
c. Acentuada angústia relativa à compulsão alimentar.
d. A compulsão alimentar ocorre, pelo menos, dois dias por semana, durante seis meses.
e. A compulsão alimentar não está associada ao uso regular de comportamentos compensatórios inadequados (por exemplo, purgação, jejuns e exercícios excessivos), nem ocorre durante o curso de anorexia nervosa ou bulimia nervosa.
Portanto, de acordo com os critérios de diagnósticos, é necessário que a compulsão alimentar se dê em um período de tempo delimitado, o que exclui, por exemplo, indivíduos que "beliscam" o dia todo pequenas quantidades de alimentos.
A quantidade de alimentos deve ser grande para um determinado período (por exemplo, período de duas horas), mesmo considerando-se que esse julgamento seja subjetivo.
Além disso, é importante o sentimento de perda de controle, em que o indivíduo fica sem liberdade para optar entre comer ou não comer.
Por fim, o paciente deve apresentar sofrimento relativo a esse comportamento recorrente e ter sua vida pessoal comprometida em virtude dessa enfermidade.
7 - Como deve ser o tratamento na compulsão alimentar?
A compulsão pode ser causada por fatores fisiológicos, como regimes repetidos e os muito restritivos. Mas, em grande parte, deve-se a fatores psicológicos.
O tratamento nesses casos, deve ser multiprofissional, envolvendo médicos, psicólogos, nutricionistas, onde o indivíduo, para emagrecer e permanecer magro deve mudar seu comportamento alimentar, reeducando seus hábitos, identificando e desvinculando a ansiedade do comportamento alimentar.
Por isso, medicamentos só devem ser usados em caso de obesidade mórbida ou para dar um estímulo inicial ao tratamento, que deverá continuar com reeducação alimentar orientada por um nutricionista, um endocrinologista e um psicólogo.
A obesidade, segundo muitos profissionais da área da saúde, é o resultado da combinação de fatores genéticos e ambientais, ou seja, "é uma condição médica geral, decorrente de multifatores causais, caracterizada, do ponto de vista psicopatológico, como uma identificação de atitudes não saudáveis na pessoa que hipervaloriza o alimento, levando-a ao sofrimento psicológico"
Normalmente, a ansiedade e o estresse, são as principais causas encontradas, onde o comer compulsivo não é provocado por fome ou prazer, se tornando, muitas vezes, um mecanismo de defesa que evita sentimentos de solidão, fracasso e abandono.
O objetivo do tratamento é estabelecer hábitos saudáveis de alimentação e ajudar o paciente a evitar todas as formas de hiperalimentação.
As abordagens psicoterápicas mais utilizadas e testadas são: terapia cognitivo-comportamental; terapia comportamental; psicoterapia focal; psicoterapia interpessoal; psicoterapias psicodinâmicas; tratamentos de auto-ajuda; e intervenções psicoeducacionais. Essas abordagens podem ser aplicadas individualmente ou em grupo.
Fonte: Programa de Orientação aos Pacientes com Transtornos Alimentares. Departamento de Psiquiatria da Unifesp/EPM.
8 - As pessoas procuram com facilidade o tratamento?
Em geral, existem algumas características de personalidade que dificultam o tratamento:
- Dificuldades em pedir e receber ajuda profissional;
- Perfeccionismo acompanhado de decepção por não conseguir como quer e quando quer Impaciência, Intolerância à frustração;
- Rigidez com resistência à mudança.
9 - Só os adultos são obesos?
Conforme dados tirados da revista ISTO É (outubro/2000), existem 40 milhões de obesos no Brasil, dos quais 1,5 milhão são crianças (Revista VEJA,1998), onde 25% da população infanto-juvenil pesa mais que o ideal.
Portanto, lembrando que grande parte das crianças obesas se tornarão adultos obesos, fica um alerta principalmente aos pais: a prevenção é fundamental.
10 - Quais as dicas para a prevenção do TCAP nas crianças?
1 - Fique e atento no comportamento de sua criança.
2 - Observe suas reações(da criança) diante de determinadas situações.
3 - Ajude-a sempre a identificar e nomear seus sentimentos, notando o que a leva à comida.
4 - Oriente-a para que mastigue bastante o alimento e sinta o seu sabor.
5 - Jamais use a comida como forma de gratificação ou castigo.
6 - Procure ajudá-la em sua dieta não oferecendo muitos doces ou frituras.
7 - Incentive, desde cedo, a prática de esportes.
8 - Acima de tudo, seja um bom exemplo para seus filhos, mostrando que você é o primeiro a adquirir hábitos saudáveis.
Fonte: Psicóloga Isabela D. Bergamini.
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